Espiritismo - origens, expansão e linhas doutrinarias

05/05/2023

Em 1848, na cidade de Hydesville (Nova Iorque), EUA, surgiu o primeiro núcleo do espiritismo moderno. Certa noite, o pastor protestante John Fox, sua esposa e as duas filhas, Margarida e Catarina, conversavam sobre estranhos fenômenos de assombração. Catarina, então, produziu estalos com os dedos; notaram todos que alguém os repetia. Por sua vez, Margarida produziu estalos e encontrou eco. Apavorada, a Sra. Fox perguntou "É homem ou mulher que está batendo?", mas não obteve resposta. Insistiu então: "É espírito? Se é espírito, bata duas vezes". Produziram-se duas breves pancadas. Conclui, assim, que um espírito "desencarnado" estava em comunicação com a família.

Segundo se diz, os próprios espíritos indicaram às irmãs Fox, em 1850, nova forma de comunicação: que os interessados se colocassem em torno de uma mesa, em cima da qual poriam as mãos; às interrogações que fizessem aos espíritos, a mesa responderia com golpes e movimentos indicadores de letras do alfabeto e de palavras.

As novas práticas se espalharam pelos Estados Unidos, Canadá e México; atravessando o Atlântico, chegando à Escócia e à Inglaterra. Em 1854, na França, Léon-Hippolyte-Denizart-Rivail (Allan Kardec) codificou a doutrina espírita em diversas obras muito divulgadas no Brasil.

O espiritismo é entendido como uma restauração da religião de Cristo, e Kardec é colocado ao lado de Moisés e Cristo como aquele que manifestou, em seus livros, a expressão mais fiel da terceira revelação.

Allan Kardec (1804-1869) foi enviado, com dez anos, a Yverdon, na Suíça, para estudar no instituto de educação instalado por Johann Heinrich Pestalozzi, o qual influenciou o pensamento religioso de Kardec.

Pastalozzi dava à Bíblia um valor apenas relativo e tinha pouco apreço pelas doutrinas cristãs. Ele defendia um cristianismo racionalista, em que se negava a existência de pecado original, da graça e da redenção. Nesse contexto, e verdadeira religião não é outra coisa senão a moralidade. Interessava quase só o ensino moral contido nos Evangelhos. Daí, Kardec construiu a visão que a parte moral é o terreno no qual as religiões todas podem se reunir. Desde os quinze anos Kardec desenvolveu a ideia de uma forma religiosa com o propósito de unificar as crenças.

O espiritismo lhe forneceu o elemento indispensável para solucionar isso, o que o levou ao estudo dessa religião a partir de 1855. Kardec entendeu o espiritismo como terreno neutro no qual se poderia constituir o ponto de encontro das religiões e gerar progresso moral e progresso da inteligência.

O espiritismo não era entendido por Kardec como religião constituída, mas a ponte de ligação entre as religiões constituídas. Todas as crenças são diversas na forma, mas "repousam realmente sobre um mesmo principio fundamental – Deus e a imortalidade da alma. Se fundirão em uma grande e vasta unidade, logo que a razão triunfe sobre os preceitos".

Em suas pesquisas, Kardec analisou o magnetismo animal (também conhecido como mesmerismo), em voga no final do século XVIII d.C. e no início do século XIX d.C., conheceu os diagnósticos e prescrições terapêuticos fornecidos por sonâmbulos, clarividência, visão por meio de corpos opacos, previsão, etc. Kardec iniciou-se no mesmerismo em 1823.

Em 1824, o magnetizador Fortier falou a Kardec pela primeira vez sobre as mesas falantes, que se tornaram fenômeno importante do espiritismo kardecista.

Kardec falava da graça como algo que se obtém por meio da caridade e humanidade. Para ir a Deus, existe apenas uma palavra de passe: caridade.

A visão a respeito dos espíritos e da reencarnação é fator que permeia a ética kardecista. Kardec defendeu que todas as almas, um dia, chegarão à perfeição por meio da passagem por outras existências, mesmo aqueles que são rebeldes ao progresso. Para ele, "o progresso dos homens ressalta a justiça da reencarnação".

Para Kardec, Jesus é o caminho para se chegar ao espiritismo. Assim, o cristianismo abriu o caminho para o espiritismo, e o espiritismo faz aquilo em que o cristianismo falhou.

Todo ser humano deve ter a liberdade de consciência. Nesse sentido, toda crença, quando sincera e conduz a prática do bem, deve ser respeitada. Apenas se devem reprimir os atos exteriores de uma crença quando são prejudiciais a terceiros.

As fatalidades que ocorrem na vida do ser humano não são sinais de falta de igualdade, pois existem, apenas, devido à escolha feita pelo espírito antes de se encarnar. Ele é que escolheu suportar esta ou aquela prova, buscando aqueles que melhor sirvam à sua elevação.

No espiritismo, quando fazemos o bem, trabalhamos para nós mesmos. Assim, é sempre necessário ajudar aos fracos. A caridade está ao alcance de todos e independe de qualquer crença particular. Os que houverem praticado a máxima: Fora da caridade não há salvação. Logo, a caridade está acima da fé e fora dela não há salvação.

Na visão de Kardec, é o espiritismo que dá a chave para a compreensão do que foi revelado, por Moisés, no decálogo e, por Jesus, no Sermão do Monte, em Mateus 5-7.

Também percebemos uma glorificação do espiritismo em todos os escritos de Kardec. É o espiritismo que destrói o materialismo e deverá marcar o progresso na humanidade no futuro.

O primeiro passo para o ser humano se fixar na moral espirita é aceitar o princípio da doutrina espirita. Não há, portanto, uma prática dissociada da doutrina. Toda ética é revista por meio dos princípios da reencarnação e visa buscar dos bens, não deste mundo, assim como ao melhoramento moral que permite ter uma vida mais elevada no além, traduzido por: Eu é que mereço o que ganho de Deus.

A alma humana é vista como preexistente, e não criada no momento da concepção do ser humano, senão Deus seria injusto por criar algumas almas mais adiantadas do que outras. Isso seria uma espécie de acepção de pessoas. O homem tem em si todas as condições para o seu progresso. Kardec defende que eu é que expio minhas falhas (meu passado) e o que eu faço é que me salva. Assim, o espiritismo não aceita o sacrífico vicário de Cristo por nós na cruz.

A morte conduz a uma vida melhor, pois nos livra dos males desta vida. "Aquele que sofre muito deve dizer que muito tinha a expiar e alegra-se pela cura rápida".

https://www.youtube.com/watch?v=66iG5em7JU8&t=38s

Referências:

BETTENCOURT, Estêvão Tavares. Crenças, religiões, igrejas & seitas: quem são? Santo André: Cromoprint, 1995

FLUCK, Marlon Ronald. Diálogo inter-religioso sob a ótica cristã. Curitiba; Intersaberes, 2020

TEIXEIRA, Faustino; MENEZES, Renata. As religiões no Brasil – Continuidades e rupturas. Petrópolis; Vozes, 2006

Astor Fiegenbaum

https://lattes.cnpq.br/2627254096100518

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